No início do século XX, monges tibetanos começaram a buscar nas montanhas do Himalaia pergaminhos perdidos da sabedoria budista. Alguns diziam saber onde os textos estavam, pois teriam sido escondidos por eles mesmos, em encarnações anteriores... O fato é que um dos livros encontrados chamava-se Bardo Thodol - que se tornou conhecido no Ocidente como o Livro Tibetano dos Mortos.
O livro é uma espécie de manual que ensina a reencarnar direito, evitando armadilhas como nascer peixe ou minhoca, e também como escapar dos reinos infernais. Bardo seria um intervalo, ou estado de consciência especial, diferente do sono e da vigília. Pode parecer uma bobagem mística, e talvez seja, mas as descrições me impressionaram. Principalmente por serem muito técnicas, nada esotéricas - como um manual de aparelho celular, ou algo que o valha.
A ideia me ocorreu meses depois de ter largado o livro: e se fosse verdade? E se acontecesse daquele jeito, mas com um sujeito que morreu sem acreditar em nada daquilo?
Perguntas que não me deixaram em paz até que comecei a escrever... Não sabia se ia ser um conto ou o quê. Primeiro, tinha que achar o personagem. Quem era o defunto? Quem havia sido ele, antes de morrer? Eu só sabia duas coisas: ele estava apaixonado e tinha sofrido uma morte ridícula.