terça-feira, 9 de agosto de 2011

Bardo Thodol, ou Livro Tibetano dos Mortos


No início do século XX, monges tibetanos começaram a buscar nas montanhas do Himalaia pergaminhos perdidos da sabedoria budista. Alguns diziam saber onde os textos estavam, pois teriam sido escondidos por eles mesmos, em encarnações anteriores... O fato é que um dos livros encontrados chamava-se Bardo Thodol - que se tornou conhecido no Ocidente como o Livro Tibetano dos Mortos.

O livro é uma espécie de manual que ensina a reencarnar direito, evitando armadilhas como nascer peixe ou minhoca, e também como escapar dos reinos infernais. Bardo seria um intervalo, ou estado de consciência especial, diferente do sono e da vigília. Pode parecer uma bobagem mística, e talvez seja, mas as descrições me impressionaram. Principalmente por serem muito técnicas, nada esotéricas - como um manual de aparelho celular, ou algo que o valha.

A ideia me ocorreu meses depois de ter largado o livro: e se fosse verdade? E se acontecesse daquele jeito, mas com um sujeito que morreu sem acreditar em nada daquilo?

Perguntas que não me deixaram em paz até que comecei a escrever... Não sabia se ia ser um conto ou o quê. Primeiro, tinha que achar o personagem. Quem era o defunto? Quem havia sido ele, antes de morrer? Eu só sabia duas coisas: ele estava apaixonado e tinha sofrido uma morte ridícula.

domingo, 7 de agosto de 2011

O mais difícil: começar


Depois de três anos, com o livro praticamente terminado, só permanecia um problema: como começar. Como abrir o primeiro parágrafo.

Pensei no conselho da Rainha de Copas para Alice: "Comece do começo e vá até o fim. Aí, pare."

Pelo menos para mim não foi tão simples. Fiquei viciado em aberturas. Ia até a livraria e lia dezenas, uma atrás da outra...

Há vários tipos, claro. Os que acreditam muito na força da história começam de mansinho. Os exaltados tentam algo extravagante, que chame a atenção. Há quem comece no meio da ação, para que o leitor não consiga nem piscar...

Há frases curtas. A mais clássica: "No começo, era o verbo". Imbatível.

Minha preferida é a do Gabriel, em Cem Anos de Solidão. Acho que sei de memória: "Diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía lembrou da tarde em que seu pai o levou para conhecer o gelo." Covardia...

Optei, exausto, por algo curto e poético: "Um dia, não tinha mais vento."